sábado, 28 de março de 2020

AS PATENTES DE ANTIGAMENTE

    Antigamente, era muito comum os homens de posse e prestigio: fazendeiros, pecuaristas e comerciantes comprar ou ganhar patentes de Coronel, Major, Capitão e Tenente.  Porém, raro o que recebia a honraria por serviços prestados de acordo com o título.

     Segundo José Lúcio da Fonseca, o seu avô Lourenço Xavier da Fonseca foi tenente da Guarda Nacional por mérito, o mesmo acontecendo, mais tarde, com o seu pai Manoel Clementino Maciel da Fonseca, conhecido por Tenente Lourencinho.

     Os nossos coronéis mais famosos foram Urbano Vieira Carneiro da Cunha, seu filho Dídimo Carneiro e Periandro  Augusto de Miranda.

    Na lembrança dos antigos ficaram os capitães Antonio Farias, Francisco Martins,José Natal e José Alvino. "O homem que combateu e ajudou aprender o cangaceiro Antonio Silvino.

    Com patentes de Major: Presciliano da Mota Silveira e Turíbio Severino de Paula. Este, segundo dizem, possuía um orgulho tão grande pela sua patente que só respondia os cumprimentos se o saudassem como titulo de Major.

 Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

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Continua
Por Dr. Antônio Ferreira Cabral
Do seu livro: Memórias da Terra do Boi Surubim.


       A Guarda Nacional foi criada em 1831, no tempo da Regência.


     Pertencia à Infantaria do Exército Nacional e tomou parte ativa em todas as guerras e guerrilhas até o ano de 1889, quando foi extinta a sua corporação efetiva, época em que se passou para o Corpo de Reserva, em conseqüência das modi­ficações feitas no exército nacional , após a proclamação da República.


    Entretanto, para efeito de renda, o Governo institui uma Corporação dos Oficiais da Guarda Nacional, pelo que todo e qualquer cidadão vaidoso e de recurso poderia ter-lhe acesso, comprando simplesmente uma patente de oficial, de maior ou menor graduação .

O Decreto vinha do Presidente da República, depois de a patente requerida e processada no Comando da Guarda.


     Cá embaixo existiam os intermediários que se encarregavam  de canalizar  o pedido.

Surubim, ao que parece, pouco foi contemplado com titulares daquelas patentes. Sua gente simples, curvada  no cabo da enxada, não deu de levantar as vistas à procura de estrelas, que não se viam  no céu e de tão pouco fulgor.

     Capitães e coronéis existiram, entre os nossos fazendei­ros,  todavia, puras cortesias de amigos, sem, contudo,  se sagrarem como tais. Títulos de oficiais só se agregam aos nomes dos fulanos, quando recebem a argamassa da lingua­gem popular. Sem tal ingrediente  não adianta. A patente cai ao primeiro sopro do vento, feito folha seca, e o nome volta ao da pia batismal.

     Pelo que sabemos, só o Capitão Abel e o  Major Prisciliano tiveram os títulos ligados familiarmente aos seus nomes. 

Fora os peles, só o do ''Major Turíbio ficou grudado, petrificado,  formando um  só nome
 - Major Turíbio.
Tanto que, ninguém o tratava pelo seu nome simples, desgrudado do Major quem assim ousasse não tinha res­posta, nem cumprimento.

     O imprudente que desse uma "boa tarde, Seu Turíbio", corria o risco de .não ser saudado. Para ele era um desaforo. Por isso que torcia a cara.
Ele tinha esse defeito - o de querer ser, mesmo que não fosse. Não viram a sua declaração feita aos rapazes do jornal  "Região", de outubro de 1967?

-Major, na  sua opinião, quem foi que mais trabalhou por Surubim?
- Digo não.
- Por que, Major ?
- Se eu disser, Você diz que é mentira.
- De  modo algum,  Major!
- Se não fui eu, não foi ninguém.

     Mas, a verdade é que o "Major " casou  bem  com  o "Turíbio", como se igualou com o que tinha e com o que ele era. Senhor de toda a Lagoa do Choro; dono de uma rua de

casa  inteirinha  (rua  do  Major); hospedeiro  do  Governador  Agamenon Magalhães; sogro do Seu  Nelson  Barbosa , que, para  o  povo,  foi  mais  que  um  Prefeito, um  benfeitor, e depois,  soube  honrar  o título  que  comprou, pois  que era um homem  sério,  respeitador,  direito  e  honrado.

     O major brigou pelo Major e quis ser o maior, mas nem precisava exigir isso do povo, que o povo, no fundo, lhe dava até mais  o reconhecimento de ser um homem pacato e um 

político resignado. O povo sabia que ele poderia ter feito em Surubim como muitos fizeram em outros lugares - matar e usurpar.

     Um outro Major, rico e ligado ao Governador, numa ter­ra de poucos abastados, dono da subdelegacia, cujo xerife João Coco era todo seu, teria usurpado a "chave da cidade".

     Isso ele não fez, como não faria nunca .

     Preferiu ficar no seu casulo, que era a sua casa, bem como a sua fazenda, ruminando
aquilo que lhe pareceu ter feito de bom  e de grande. 

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