quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

BOTIJAS

CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930   
                         
      Naquele tempo, a pessoa que arrancasse uma botija podia ficar rica dependendo do valor e da quantidade de moedas de ouro e prata que encontrasse. Porém, aconteceram casos em que o tesouro era apenas um punhado de níqueis enferrujados. Muitos foram os "escolhidos", mas só aqueles que tiveram fé e sangue frio realizaram o trabalho.

     Muitas vezes a "alma" aparecia em sonhos e entregava a botija sem muitas complicações: ponto tal, debaixo daquela árvore, que fica atrás daquela casa. Outras vezes indicava como referência uma pedra, mas a pessoa devia andar dez passos à frente, trinta à esquerda, até que, obedecendo a uma série de exigências, encontrasse o lugar para cavar.
     Antigamente não existiam bancos onde as pessoas de posse pudessem guardar o dinheiro, ou então, por sovinice, costumavam esconder suas moedas de ouro, prata e níquel em panelas de barro. E quando morriam, tempos depois "apareciam" em sonhos. Eram as "almas" dos finados dizendo onde estava enterrado o dinheiro.
     Tudo se fazia no maior segredo. Quem sonhasse não podia contar pra ninguém, senão a botija desaparecia. Devia cavar sozinho e de noite. Dizem que na hora de arrancar apareciam bichos estranhos, cavalos em disparada, diabos e outras assombrações para desviar a atenção do afortunado. Muita gente "sonhou" com botija, mas não teve coragem de desenterrar. Outros desistiram no meio do caminho, com medo das aparições.
    Conversa daqui, conversa de acolá, e as estórias vão surgindo, todas verdadeiras, segundo seus contadores.

      "Um dia eu ía com um menino pro Engenho da Palma onde morava do­na Zefa. Chegando lá, passava das nove horas da noite. E como a casa estava fechada fomos dormir na bagaceira. No outro dia, bem cedinho, fomos bus­car os cavalos no açude. Foi quando vimos um buraco grande com uma pedra de moinho ao lado: Aí eu pensei:arrancaram uma botija. Voltamos pra casa do engenho e encontramos dona Zefa sentada no alpendre. Aí eu disse:

    - Comadre ,arrancaram  uma botija.
    - Onde ?         .
    - De trás do paredão do açude.
    - Então vamos espiar.

     E quando chegamos lá, tava o buraco do mesmo jeito .Mas dinheiro que    é bom, não tinha não".
    
   "Quando cavaram o primeiro saneamento em Surubim, acharam uma botija. Mas no lugar de ouro e prata, encontraram um grude de moedas de níqueis enferrujados numa panela".

    "Uma vez,  uma pessoa minha conhecida, sonhou com uma botija. No sonho,.apareceu uma mulher baixinha,dizendo o lugar onde devia arrancar. Aí minha amiga ficou com medo e contou ao morador da fazenda. Olhe, disse ele. A pessoa que deu a botija a senhora é igualzinha afinada mulher do antigo dono dessas terras. Aí a minha amiga desistiu.Passou, passou. Tempos depois uma vizinha sonhou, cavou e tirou muitas moedas de prata,

daquelas antigas. A gente. viu o buraco. Não demorou muito tempo, e a vizinha se mudou, pois quem arranca botija não pode ficar no mesmo lugar".


Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

Imagem da Botija: cgretalhos.blogspot.com/

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