Manuel Batista de Moraes - "Antonio Silvino". - Foto: Fundação Joaquim Nabuco.
Surubim, cidade agrestina , não teve o infortúnio de se tornar palco de tragédia , com a
participação de cangaceiros.
Lampião vivia mais embrenhado nas caatingas do sertão. Era lá o esconderijo dos cangaceiros.
De forma que, de Surubim , acompanhava-se, de longe, a vida tumultuada daquele perigoso cangaceiro. As suas refregas, nesse e naquele lugar.
Quando se tinha notícia de sua presença em algum lugar mais próximo, era motivo de preocupação de todos. E, porque não dizer, era motivo de medo.
As mulheres e as crianças ficavam aterrorizadas. A figura de Lampião era , para nós, um espectro de terror.
Não obstante, ficávamos todos fascinados, quando líamos os folhetos dos poetas populares, exaltando os seus feitos. Aí ele se nos afigurava um herói, o protagonista do
romance.
Eu, particularmente, entusiasmado, lia os folhetos, em voz alta, na última potência. Lia pra mim e para os outros, para os de casa e para os de fora.
Mas o fato é que, como disse, Lampião não chegou a pisar o solo do nosso município.
Quem pisou , por algumas vezes, foi Antonio Silvino.
Este, cangaceiro cuja linha de ação era bem diferente daquele que foi intitulado o "rei do cangaço"
Lampião era perverso, desumano. Parece que era revoltado contra o mundo. Tem-se notícia de algumas de suas atrocidades, ora praticadas por ele próprio, ora por seus cabras, como eram chamados. Enquanto que Antonio Silvino, não.
Ele era revoltado, sim, mas era contra as injustiças - as injustiças sociais, as injustiças
praticadas pelos responsáveis pela Justiça .
A falta de trabalho, a pobreza reinava naquela época, mais do que nunca.
A polícia desatinada abusava do seu poder. E os órgãos da Justiça, impotentes, cruzavam os braços.
Antonio Silvino, naturalmente revoltado contra esse estado de coisas, deu de se marginalizar. Virou cangaceiro.
Já porque assassinaram o seu pai, já porque ele não tinha natureza de se manter indiferente a tantas injustiças, a tantas ruindades.
Na falta de Justiça no país, deu de fazê-la com as próprias mãos. Começou por vingar a morte do seu progenitor. Daí por diante; sua vida foi de luta e agitação. Cangaceiro declarado, caiu no desagrado de muitos. Tendo, como inimigo comum, a polícia.
Vivia confiando e desconfiando. Tinha os seus amigos que o acolhiam , é verdade. Mas, dormia com um olho só. Pelo que, sua vida era um desassossego. Até os amigos
poderiam traí-lo.
Haja vista o que ocorreu com o velho João Batista , tronco da ilustre família Batista , da
região. Costumeiramente, Antonio Silvino e seu bando se hospedavam na fazenda do
Gambar, de propriedade deste último.
A polícia sabendo, ficou na espreita , arranchando-se na quela fazenda, durante dias.
Antonio Silvino, tomando conhecimento da presença da polícia no Gambar, lá não foi , mas passou a suspeitar do velho anfitrião, de quem se tornou até inimigo. Tanto que prometeu castigá-l o com a morte.
Prometeu e foi. Foi a Surubim , onde, na época , morava o Seu João Batista. Que foi ao seu encontro, a seu chamado. Interferiram os homens da cidade. Arranjaram a coisa. dando ao cangaceiro algum dinheiro.
Este local hoje é a praça Dídimo Carneiro - Centro de Surubim -PE. 1930.
Minha Rua Tem Memória.
Dizem que ele esteve em Surubim por três vezes. Numa das vezes, houve um incidente bastante grave, quase culminando com a morte de um conterrâneo - Rufino. Rufino José de Limeira , era o seu nome. Comerciante na cidade e grande proprietário de terras. Isso foi de 1912 para 1913.
Este, faltando com a obrigação para com o temido cangaceiro, qual seja a de contribuir com uma determinada importância, deixou-o furioso. Não se contendo, mandou buscá-lo. Esperou-o debaixo da velha gameleira, existente em frente do antigo açougue, onde é hoje a casa comercial do Seu José Galdino. ( Atualmente Edifício José Miguel )
- Cadê o dinheiro?
- Não tenho, respondeu Rufino.
Antonio Silvino, sabendo ter ele o dinheiro contado, deu de sangrá-lo, como se faz com um bode.
Antiga Vila Surubim - Este local hoje é a praça Dídimo Carneiro - Centro de Surubim -PE.
Década de 20. - Minha Rua Tem Memória.
- Joguem o laço na gameleira, ordenou ele. Atem-no aos pés desse cabra ... Suspendam ... Foi quando chegou o Seu José Natal (há quem diga que foi o Cel. Dídimo Carneiro),
levantando os braços e alteando a voz. - Pelo amor de Deus não mate o homem, Capitão!
Se é pela quantia, aqui está, passando-lhe o dinheiro, que teria sido um conto de réis. Foi a salvação. Do contrário, Rufino teria sido sangrado.
Capitão José Natal, pai de Dona Maria José Medeiros, sendo assim, avô do nosso querido amigo professor Luiz Antônio Medeiros. O Capitão também era irmão do primeiro prefeito de Surubim, Coronel Dídimo Carneiro.
Há quem ilustre a história acrescentando que Rufino advertiu o seu protetor de que não lhe pagaria: "Vosmicê pode deixar fazer o serviço", teria dito ele. Porém, de acordo com informação de Davino Amaro, Rufino acertou com o credor de sua vida.
A última vez que ele esteve na nossa cidade foi com 14 cangaceiros. Dentre eles, Rio
Preto, Cocada , Baliza , Bibiano, inclusive surubinenses Antonio de Ney (vulgo
jararaca ) e Tempestade. Porém, se na Vila ele esteve, apenas três vezes, no município esteve muitas vezes.
Em 1908, por exemplo, esteve nas Guaribas hospedado na fazenda do meu avô, João Cosme Otaviano Camelo.
Dona Cecília Cabral nos conta que conheceu Antonio Silvino, pessoalmente. Era alto e bonito, adiantou ela. E, acima de tudo, um homem bom. Tanto que ela e suas irmãs, ainda meninas, não tinham medo dele. Tinham medo, sim, da polícia. Andava fardado. Só o chapéu era de couro.
Enquanto que os seus cabras vestiam-se de roupa comum, sempre de chapéu de couro. Uma particularidade, todo o grupo gostava de andar perfumado e trazia os fuzis bem lubrificados.
Ainda, de acordo com Dona Cecília, ele teria ofendido a uma moça, de nome Sebastiana Biró, filha de Severino Biró.
Assumiu , entretanto , o mal feito, se amasiando com ela, quem lhe dera alguns filhos.
ESCARAMUÇAS E MORTE DE ANTONIO SILVINO
Além, da polícia, ele tinha outros inimigos declarados.
Um deles era Nicácio inspetor de quarteirão, a quem prometeu liquidá-lo no primeiro encontro.
Liquidou-o, porém, Antonio Silvino. No lugar denominado Trapiá.
Nicácio atirou primeiro. Não acertando, acertou o Antonio Silvino..
Outra proeza fez acontecer em Santa Maria. Alí, quem mandava era Zé Braz, a quem Antonio Silvino chamava de Zé Carrapato.
Informado de que o famoso chefe do cangaço se dirigi a Santa Maria, armou-lhe
uma cilada.
Quando já se aproximava das cercanias da vila , Zé Braz mandou um companheiro acenar um lenço branco, em sinal de paz. O lenço estava atado ao cano do rifle.
Dasarmado o espírito do homem, fizeram-lhe fogo. Dessa cilada tomaram parte o Capitão José Alvino e Zé Patrício, ao lado de Zé Braz.
Não obstante, Antonio Silvino venceu a todos.
De outra feita, no Engenho Figueira, em Orobó, Antonio Botijão, que também fazia promessa de liquidar o cangaceiro mencionado, disparou-lhe um tiro, que, por sorte, tomou outra direção. Em resposta , Antonio Botijão recebeu uma bala letal , que lhe tirou a vida.
A última escaramuça que teve, foi quando foi preso. Isso se deu no lugar denominado Lagoa Rasa , no hoje município de Vertentes, onde ele se achava acampado, na fazenda de Manuel Mendes. Estava distraído, jogando sueca, juntamente com uns companheiros, debaixo de um pé de juá.
Veio Zé Patrício, de ponta de pé, ladeado pelo Capitão Zé Alvino. Ao se aproximarem bem , fizeram pontaria e fizeram fogo, baleando-o. Só deu tempo de escapulir-se.
Dizem que alguém o homiziou em casa. Mas, ele, vendo-se muito ferido, preferiu se entregar.
Foi o Delegado Teófanes Torres quem o recebeu preso. Viajaram a cavalo até a cidade de Caruaru. Daí, foram de trem especial até Recife, acompanhados de dois médicos. Isso foi no ano de 1915. Um dos seus cabras, Joaquim de Moura, foragido de Fernando de Noronha, vendo o seu chefe combatido e preso, preferiu o suicídio, dando um tiro em si próprio.
Interrogado pelo Juiz que dirigia o processo, disse chamar-se Manuel Batista de Moraes. Acrescentando que Antonio Silvino era apelido. É o que consta no folheto de Leandro Gomes de Barros, intitulado "Antonio Silvino no Jury. Debate do seu Advogado".
Fonte: Livro - Memórias da Terra do Boi Surubim.
Autor: Surubinense, Dr. Antonio Ferreira Cabral. Edição: 2002.
NOTA: Tenho algumas unidades do livro citado à venda.
Whatsaap - (81) 99517 9330 - Tim.
CONHEÇA MAIS SOBRE ANTONIO SILVINO NO LINK ABAIXO:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=329&Itemid=182
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