domingo, 12 de janeiro de 2020

ZÉ PETRONILO, O NOSSO FAMOSO MAMULENGO

"A fantasia do mamulengo é de noite. De dia, não tem graça não".
 CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930
                             Zé Petronino e seus bonecos.

     Em Lagoa Nova, Surubim, numa casinha simples, mora José Petronino  Dutra, o Zé Petronilo, o famoso criador e "brincador de mamulengo" , e sua mulher Tonha. Pertinho vivem os seus filhos Maria e Zezinho, que aprenderam com o mestre a arte do mamulengo.     

     "Sou natural de Bom Jardim, mas quando tava com negócio de 15 anos, fui morar em Casinhas. Lá me criei e me casei.

- Quantos anos o senhor tem?

- Eu ainda não me enterrei não. Só sei que faz mais de cinquenta anos que brinco com mamulengo.
. Naquele tempo, em Casinhas, todos os anos chegava um brincador de mamulengo. Um dia, eu peguei a arremedar uma figura, aí ele viu e disse: Esse danado dá pra brincar com mamulengo.   Aí eu levantei o primeiro boneco.
Aí um compadre meu apreciou o trabalho e falou:
- Zé, tá bom de você fazer um ensaio.

- Onde?
- Lá em casa.

     Aí o compadre botou os bonecos e quando eu ia começar, vi o moleque  Nô. Aí pensei. Esse camarada tem jeito pra brincadeira. Botei um boneco e chamei três vezes: Chega Nô, chega Nô, chega Nô. Ele entrou e pegou a brincar, mas pra tudo que eu falava, respondia: Dixe, dixe, dixe e botou pra tremer. No outro dia me encontrei com ele: Seu Zé, aquilo não é negócio de gente não. Quando eu entrei, criei suor frio, e não gostei não.

     Passou o tempo, coisa e tal. Aí fui dar um ensaio na "rua" de Casinhas. Aí no outro dia soube que uma camarada tinha falado que o meu brinquedo era imoral. Então seu Manoel Veiga, que nesse tempo era delegado, perguntou:
- Zé, onde é que você vai brincar hoje?

     - Em canto nenhum . Eu não vou mais brincar, porque ouvi dizer que o meu brinquedo é imoral e eu não quero esse negócio não.

-Você não deixe de brincar não, porque parece que a coisa vai. Olhe, eu vou lhe ensinar. Na hora que você botara primeiro boneco diga: Eu não vou mais brincar de mamulengo, porque teve gente que falou que era imoral. Mas imoral é quem anda a meia-noite nas casas de farinha e nos pés dos muros.

     Aí no dia do ensaio eu disse tudo direitinho como seu Manoel Veiga mandou. Continuei brincando e tempo depois, o delegado me deu um papel dizendo que o mamulengo era familiar e que eu podia brincar em qualquer canto. Aí peguei gosto e fui brincando.

    Desde o começo que faço os bonecos sozinho , do mesmo jeito que antigamente. Primeiro pego um pedaço de pau e vou criando. Depois pinto, coloco as roupas e os enfeites. A roupa eu corto e costuro a mão. É tudo da minha ideia, o   nomes, as cantigas. Tudo".

     E seu Petronilo  com seu jeito brincalhão vai apresentando a sua arte: Esse aqui é o Brasil, Brasilino, Tio Nonô, Vitorina, Chifrim, Coruja, Tenente Chiquita, Chico Tripa, Brechô, Munturo, Chiquita Meu Bem e muitos, muitos outros lindamente trajados e embelezados.

    "Eu já brinquei com o mamulengo em muitos cantos, que chega perdi a conta. O povo chamava , e se o lugar fosse de respeito , eu ia brincar. Mas dinheiro que é bom, eu não tenho não. Mamulengo dá alegria e trabalho , mas não dá dinheiro não".

     Essa magia que encanta e faz sorrir, brota de um artista maravilhoso, que o povo de Surubim não reconhece, mas que ainda é tempo.


Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

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