CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930
Zé Petronino e seus bonecos.
Em Lagoa Nova, Surubim, numa casinha simples, mora José Petronino Dutra,
o Zé Petronilo, o famoso criador e "brincador de mamulengo" , e sua
mulher Tonha. Pertinho vivem os seus filhos Maria e Zezinho, que aprenderam com
o mestre a arte do mamulengo.
"Sou natural de Bom Jardim, mas quando tava com negócio de 15 anos,
fui morar em Casinhas. Lá me criei e me casei.
- Quantos anos o senhor tem?
- Eu ainda não me enterrei não. Só sei que faz mais de cinquenta anos
que brinco com mamulengo.
. Naquele tempo, em Casinhas, todos os anos chegava um brincador de
mamulengo. Um dia, eu peguei a arremedar uma figura, aí ele viu e disse: Esse
danado dá pra brincar com mamulengo. Aí eu levantei o primeiro boneco.
Aí um compadre meu apreciou o trabalho e falou:
- Zé, tá bom de você fazer um ensaio.
- Onde?
- Lá em casa.
Aí o compadre botou os bonecos e quando eu ia começar, vi o moleque Nô. Aí pensei. Esse camarada tem jeito pra
brincadeira. Botei um boneco e chamei três vezes: Chega Nô, chega Nô, chega Nô.
Ele entrou e pegou a brincar, mas pra tudo que eu falava, respondia: Dixe,
dixe, dixe e botou pra tremer. No outro dia me encontrei com ele: Seu Zé,
aquilo não é negócio de gente não. Quando eu entrei, criei suor frio, e não
gostei não.
Passou o tempo, coisa e tal. Aí fui dar um ensaio na "rua" de
Casinhas. Aí no outro dia soube que uma camarada tinha falado que o meu
brinquedo era imoral. Então seu Manoel Veiga, que nesse tempo era delegado,
perguntou:
- Zé, onde é que você vai brincar hoje?
- Em canto nenhum . Eu não vou mais brincar, porque ouvi dizer que o meu
brinquedo é imoral e eu não quero esse negócio não.
-Você não deixe de brincar não, porque parece que a coisa vai. Olhe, eu
vou lhe ensinar. Na hora que você botara primeiro boneco diga: Eu não vou mais
brincar de mamulengo, porque teve gente que falou que era imoral. Mas imoral é
quem anda a meia-noite nas casas de farinha e nos pés dos muros.
Aí no dia do ensaio eu disse tudo direitinho como seu Manoel Veiga
mandou. Continuei brincando e tempo depois, o delegado me deu um papel dizendo
que o mamulengo era familiar e que eu podia brincar em qualquer canto. Aí
peguei gosto e fui brincando.
Desde o começo que faço os bonecos sozinho , do mesmo jeito que
antigamente. Primeiro pego um pedaço de pau e vou criando. Depois pinto, coloco
as roupas e os enfeites. A roupa eu corto e costuro a mão. É tudo da minha ideia,
o nomes, as cantigas. Tudo".
E seu Petronilo com seu jeito
brincalhão vai apresentando a sua arte: Esse aqui é o Brasil, Brasilino, Tio
Nonô, Vitorina, Chifrim, Coruja, Tenente Chiquita, Chico Tripa, Brechô,
Munturo, Chiquita Meu Bem e muitos, muitos outros lindamente trajados e
embelezados.
"Eu já brinquei com o mamulengo em muitos cantos, que chega perdi a
conta. O povo chamava , e se o lugar fosse de respeito , eu ia brincar. Mas dinheiro
que é bom, eu não tenho não. Mamulengo dá alegria e trabalho , mas não dá
dinheiro não".
Essa magia que encanta e faz sorrir, brota de um artista maravilhoso,
que o povo de Surubim não reconhece, mas que ainda é tempo.
Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.
A Salvaguarda do Mamulengo Pernambucano deseja entrar em contato, por favor.
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