sábado, 18 de janeiro de 2020

O CINEMA MUDO: ANTONIO JUSTINO, URCEZINHO E DINÓ ARRUDA

CONHECENDO SURUBIM: 1900 a 1930
     O primeiro Cinema Mudo da Vila  de  São  José  do  Surubim  foi  fundado em 1925,  por Antônio Justino. O primeiro operador foi Alfredo Maurício da Cunha, conhecido  por Alfredo  Motorista. Posteriormente,  Antônio  Justino vendeu o Cinema Mudo aos irmãos Urcezino e Dinó Arruda.

     O Cinema Mudo ficava na atual Rua 15 de Novembro nº 44, antigamente uma casinha simples e comprida, com duas portas e um salão mais ou menos.
     O Cinema Mudo de Surubim, foi instalado por Antônio Justino  nessa rua em 1925, porém, essa foto é um registro de 1948, ou seja, 23 após a instalação do cinema. (Só para você ter uma ideia da atual localização é em frente à loja Emanuelle.) 

     "As fitas de maior sucesso eram as de Cowboy e os Seriados como a Deusa de Joba, Besouro Verde e outros exibidos nas quartas-feiras e sábados. Aos domingos passava os dramas, que a gente não entendia muito. Naquele tempo, os artistas mais famosos eram Tom Mix, de físico reduzido , mas valente como um cão e Roy Rogers com o seu cavalo branco. A entrada mais barata era de segunda, atrás da tela, e quem sentasse ali, olhava as imagens e lia as legendas ao contrário. Aqui vivia um camarada, o Elias Boca de Japão, que tinha uma prática muito grande em ler às avessas. Aí todo o mundo queria sentar perto dele. 
                                                  Empresário Hibernon Batista

     Pra época o Cinema Mudo era bom demais, um acontecimento. As pessoas se empolgavam com os Seriados, defendendo o mocinho, e os meninos ficavam doidos com a sua valentia. Gritavam e batiam palmas torcendo" , conta Hibernon Batista.  

UMA AMIZADE QUE DUROU A VIDA INTEIRA


     Os irmãos Dinamérico Severino e Urcezino Severino de Arruda, eram filhos de José Severino de Arruda e Olindina Teôtônia de Arruda. Nasceram em Surubim, no início da década de noventa do século XIX.

     Dinamérico, conhecido por Dinó, era o mais velho. Casou-se com Maria Cândida de Farias e foram pais de 15 filhos. Urcezino, conhecido por Cezino, casou-se com Isabel de Farias Arruda, a Bela, em 25 de novembro de 1915, e foram pais de nove filhos.
Professora Célia Arruda,  filha do Sr. Dinarnérico ( Dinó ). 

     "Meu pai, Urcezino, foi trabalhar com tio Demóstenes em Riacho Grande na Paraíba. Depois foi para Santo Antônio negociar com algodão e terminou em Capina Grande, onde comprou um descaroçador de algodão, regressando a Surubim em 1927", conta Célia Arruda.

     "Meu pai, Dinó, nunca saiu de Surubim. Aqui trabalhou e viveu toda a sua vida", conta Nenen de Badian.

     "Em 1927, ou 1928, os dois irmãos, grandes amigos e sócios nos negócios, compraram o Cinema Mudo a Antônio Justino e contrataram Seu Elias como mecânico.

     Urcezino e Dinó foram donos de padaria e segundo a família, "só se separaram nos negócios quando foram trabalhar na agricultura. Aí cada um botou o seu roçado", recordam Leninha e Neuza Arruda de Queiroz.


     Em 13 de março de 1935, Urcezino é nomeado contador e partidor do Município do Surubim, cargo que ocupou até a sua aposentadoria.
Foto da antiga prefeitura do Surubim em 1941, hoje é a Câmara Municipal de Vereadores.
Minha Rua Tem Memória - Resgate fotográfico: Dr. Antônio Hermes.

     A Amizade dos dois irmãos chamava a atenção pois nunca houve qualquer desenten-dimento que abalasse o carinho, a solidariedade e o respeito que existiam entre eles.

     Homens simples, alegres e brincalhões,  Dinarnérico e Urcezino  acreditaram no progresso da pequenina Surubim e investiram suas economias ,seus esforços e seus sonhos em atividades que marcaram profundamente o desenvolvimento  de nossa terra.

O CINEMA MUDO: O ZONOFONE E A SUA PEQUENA ORQUESTRA

                                      Zonofone / Imagem: Reprodução / Internet

     "Lá no Cinema  Mudo, sentávamos nuns bancos de madeira, duros e sem encosto, os "pela-porcos". Ficávamos bem em frente à tela e quando os artistas atiravam, cobríamos os olhos e gritávamos de medo. Aí seu Cezino dizia: Calem essas bocas meninas, vocês não estão vendo que é de mentira? Aí a gente caía no choro.
                                    
                                                            Alaíde França
     No início, como o filme era mudo, usavam um zonofone, a radiola de antigamente. E pra  tudo que aparecesse na tela, a música era quase sempre a mesma", conta Alaide França do Alto de São Sebastião.
     Depois o Cinema Mudo ganhou uma nova atração: os músicos. "Eu toquei no Cinema, no tempo de Cezino e Dinó Arruda. A gente acompanhava a fita tocando de improviso e olhando para a tela. Não tinha esse negócio de ensaiar não.  Era ali direto e quando começava o  Aranha Negra, a gente danava os instrumentos pra cima. Era o filme todinho assim, e só parava nos intervalos, quando a luz acendia. Era um negócio que empolgava. O povo vendo o filme  e ouvindo a música ali, ao vivo", conta Evaristo Amorim. 
Mestre Evaristo Amorim 

     E VIVA OS MÚSICOS: Chico Gago, Dídimo Guerra, Evaristo Amorim, Severino Ginu,   Severino França, Zé de Mila e outros.
                           

MIRANDA E O CINEMA MUDO


     Com o tempo, Cezino e Dinó  Arruda alugaram o Cinema Mudo a Miranda, de Limoeiro.

    "Aos  sábados, devido ao grande movimento da feira, as atividades comerciais da Vila eram maiores. Então, às vezes, por causa de um freguês, fechava-se a loja mais tarde.

     Nessa época, o Cinema Mudo tinha uma campainha  elétrica avisando aos retardatários que a sessão ia começar . Num desses sábados , passou um habitué na porta do Cinema e seu Miranda perguntou:

     -  Você não vai assistir o filme?
    -  Não posso. Fechei a  loja agora e ainda vou pra casa tomar banho, trocar de roupa e tomar café.
     Então  Miranda falou: Vá que eu espero", conta Hibernon Batista.
                                                

ALFREDO MOTORISTA: O CINEMA MUDO E A PRIMEIRA "SOPA" DE SURUBIM
                          
     Alfredo Maurício da Cunha, conhecido por Alfredo Motorista, chegou em Surubim com sua mulher Francisca Maria do Nascimento, a Chiquinha, no ano de 1925, contratado por Antônio Justino como o primeiro operador do Cinema Mudo. Na penumbra do pequeno salão, Alfredo projetava as imagens que encantavam o povo, revolucionando o marasmo da pequena Vila.

     Mas Alfredo, motorista de profissão, logo deixou o Cinema Mudo e voltou a trabalhar como motorista particular. Apostando na sua capacidade de mecânico e na sua criatividade, em parceria com Amaro Clemente, de Carpina, criaram a primeira' "sopa" de Surubim, tendo como ajudante e primeiro Motorista, Zé da Sopa.

     É bem verdade que a '"sopinha" durou pouco; mas Alfredo continuou trabalhando. Nas oficinas que montou, foi mecânico e professor competente, deixando para outras gerações os ensinamentos de sua arte.


Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

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