segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

LÍRIO BRANCO, O PÉ DE OURO DA DANÇA

 Ivete Lucena a  "Lírio Branco" curtindo os melhores momentos da vida, dançar era sua maior felicidade.
     
Sentindo frio em minha alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava.
São dois pra lá, dois pra cá...
                                    Aldir Blanc / João Bosco

     "Quando vou a um baile,tenho que usar roupa nova e sapato alto. Arrumo o cabelo, boto baton, rouge e saio bem perfumada,que é para deixar rastro.O sapato alto é fundamental; o toque de elegância.
  
     - A senhoria me concede o prazer desta dança?

     - Pois não. Com muito prazer.

     Naquele tempo,quando eu era adolescente, o cavalheiro chegava, pedia licença e, com a maior simpatia, convidava pra dançar.Terminada a música, acompanhava a dama até a mesa e agradecia.

     Pelo modo como um rapaz me pega, eu sei se ele sabe dançar' ou não. Depois, tem que dá aqueles passos, fazer aquelas voltas, arrodear o salão, ocupando os espaços, para que todos possam admirar. Dançar de rosto colado é muito bom, e já dormi rio cangote de muitos rapazes, dependendo das músicas e dos cavalheiros.

     A escolha de um local para ficar num baile é importantíssimo. Quando possível, tem que ser fixo, ou num lugar onde a gente possa se destacar: pois se ficar num cuvico ninguém ver.No Sport Club de Surubim tenho o meu canto: do lado direito perto do.conjunto. Então,os brotos já sabem onde me encontrar.

     Sou do tempo dos assustados nas casas de Pragana e de Vilanova e dos Hi-Fi no Sport.Club de Surubim. Programava as festas e  raquem mais dançava. A radiola tocava sambas,boleros e muitas músicas do Trio lrakitan que até hoje me dá Saudades.
                                                       
Lírio com  o cantor Jorge de Altinho autografando o seu disco - LP.
     A fama de professora e de pé de ouro da dança apareceu porque os brotos que não sabiam ou que dançavam mais ou menos, me convidavam para uma parte. Eu tinha paciência e ensinava. Pedia que não olhassem para os pés dos outros e que prestassem atenção ao som da bateria. Então,eles saíam dizendo que estavam aprendendo adançar comigo.Quando aparecia alguém de fora,os amigos falavam: "Dança com Lírio que ela sabe". Se tivesse num baile com Adijanete Amorim , ela dizia: "Bota fulano pra dançar com Lírio, que ela é o pé de ouro de Surubim" . A fama espalhou-se e até hoje.

     Tem gatinha que diz pra mãe: "Eu vou aos bailes e não danço nem uma parte, mas quando dou fé, tá Lírio rodopiando no salão".

    Onde tivesse baile eu ia atrás. Já dancei muito em João Alfredo, Santa Maria do Cambucá, Orobó,Limoeiro, Carpina,Vertentes, Taquaritinga,Toritama, Santa Cruz do Capibaribe, Frei Miguelinho,Umbuzeiro e em tantos lugares que perdi a conta.
                           
Lírio dançando ao som dos Meigos no Sport Club de Surubim, anos 70.

     Pelo meu gosto, dançava os sete dias da semana. Só pelo prazer de dançar", conta Lírio Branco.   
         -   "Lírio é uma estrela em todas as festas. É ela quem inicia e anima.os bailes. Éramos acostumados a dançar agarradinhos . Mas com Lírio é aquela dança bonita de vai e" em, de viradas.

     É uma pessoa cem por cento, está sempre cheirosa e bem arrumada. Muito querida e respeitada. Quando eu era rapazinho,Lírio me ensinou a dançar. Ela dança muito bem e nunca perdeu uma festa. Que eu saiba, nunca fez renda. Não bebe. Mas se bebesse era desmantelo para duzentos anos", contam Professor Fábio, Marcelo Barbosa, Walter de Tintoca, Fernando Cabral Guerra, Marcelo Judas Tadeu e Fabrício de Brito.

     "Lírio ensinou muitos boys a dançar. Acho que nunca deu um corte e nunca deixou um parceiro no meio do salão. Pra ela não tem parelha", conta Zé Mário Barros.

     "Lírio tem passe livre nos bailes da cidade porque representa a dança em Surubim. Tem um espírito muito jovem e curte avida numa maior. Eu dou a maior força", contam Geovani, o Boro, Edione e Sérgio Murilo.

     "Lirio transmite uma energia que muitos jovens não têm. Gosta de brincar, de viver do jeito que lhe agrada: dançando. Como ela não existe. Lírio é flor, é vida", conta Jacinta Barbosa Arruda.



Fonte: Livro Surubim Pela Boca do Povo - Mariza de Surubim - Edição: 1995.

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