quarta-feira, 4 de setembro de 2019

HISTÓRIA DA VAQUEJADA DE SURUBIM: UM DEBATE PARA O FUTURO.

O escritor Fernando Guerra e os deputados Tadeu Alencar e Wanderson Florêncio. Marcaram presença dia (02) no debate sobre a memória da vaquejada de surubim e o futuro dessa polêmica tradição na Academia Pernambucana de Letras.
Confira abaixo, post com o texto completo da palestra.
Publicação da pág. facebook de José Nivaldo Júnior.
                                                     Fotos: José Nivaldo Júnior.






Fernando Guerra abordou a História.
Os deputados Wanderson Florêncio e Tadeu Alencar os aspectos legais, ambientais, de proteção aos animais, econômicos (as vaquejadas geram 200 mil empregos diretos e 600 mil indiretos no Nordeste) e culturais.
Uma tarde agradável e muito rica em conteúdo.
Prazer rever tanta gente querida.
Obrigado a todos.

ROTEIRO DA PALESTRA NA ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS
Inicialmente quero expressar os meus agradecimentos pela acolhida nesta casa que me abriu suas portas graças ao conterrâneo José Nivaldo Junior aqui já muito bem estabelecido, ele que vivenciou no meu tempo e em nossa terra uma infância onde estão indelevelmente registradas as emoções das suas vaquejadas.
Não seria possível mergulhar nesse universo de vaqueiros e vaquejadas se não fôssemos envolvidos pelo manto da vida pecuária. Em nosso caso, tínhamos certamente a frustração por não termos tido as habilidades de algumas crianças do nosso tempo que desfilavam nas pistas de corrida, aos nossos olhos, montados em cavalos, aqueles inesquecíveis cavalos crioulos nordestinos como verdadeiros heróis de nossa geração.
Para entender a importância da vida pecuária em nossa região cito um trecho de um Roteiro do Maranhão a Goiás de autoria desconhecida e que data do século XIX que diz “que essa gente dos sertões da Bahia, Pernambuco e Ceará tem pelo exercício nas fazendas de gado tal inclinação que procura com empenho ser nela ocupado, consistindo toda sua maior felicidade em merecer algum dia o nome de vaqueiro. Vaqueiro, criador ou homem de fazenda são títulos honoríficos entre eles”.
Devíamos àquela altura estar impregnados desse mesmo espírito, ecos de nossa ancestralidade. Ser vaqueiro, corredor de vaquejadas, talvez porque fosse uma proeza inalcançável para a maioria das crianças de meu tempo era visto como algo mágico.
O filme documentário sobre a vaquejada de 1949, esse exibido há pouco, passava no único cinema da cidade sempre às vésperas de alguma vaquejada e nos enchia de orgulho, pois conhecíamos todos aqueles a quem considerávamos verdadeiros artistas de cinema. Afinal o faroeste americano também dava a sua parcela de contribuição e nos influenciava com os Rocky Lane, Roy Rogers, Zorro e outros mais, numa época em que não havia televisão. Eles, montados em cavalos a correr, tem no poeta popular Patativa do Assaré uma correspondência, quando enaltecia a vida rural ...
Pra minha vida sê bela
Só basta não fartá nela
Bom cavalo, boa sela
E gado pr’eu campeá.
Buscando entender o ambiente onde nasceram as vaquejadas logo no início de nosso livro Memória das Vaquejadas de Surubim em seu segundo capítulo, identificamos sob o ponto de vista de nosso estado de Pernambuco, a existência de dois Nordestes.
Li depois que para o nosso grande ecólogo Vasconcelos Sobrinho, Pernambuco possui apenas duas zonas, a da Mata e a das Caatingas.
De um lado, compreendendo a faixa litorânea e adentrando algumas dezenas de quilômetros a oeste, a Zona da Mata, com elevados índices pluviométricos, onde existiram florestas exuberantes, tendo solos ricos e profundos e uma bacia hidrográfica formada por rios perenes. E, do outro, o Agreste e o Sertão integrados à grande região semiárida, com cerca de 868 mil Km² de área, impactada e sofrida, sujeita às secas periódicas, regime de chuvas conturbado e vegetação tolhida pelas agruras do tempo.
Dois Nordestes diferentes desenvolveram-se ao longo de cinco séculos. Um rico, outro pobre.
Desde o período colonial essas características delimitavam as práticas agrícolas, inviabilizando o cultivo da cana-de-açúcar no interior nordestino que se destinou à criação de gado e a posteriori, ao plantio do algodão, mais acentuadamente no Agreste para depois chegar ao Sertão.
O elemento europeu estabelecido nas proximidades do litoral conviveu com o negro trazido da África para fazer funcionar as moendas, os engenhos e produzir açúcar, a maior riqueza do Brasil Colônia. Essa sociedade escravocrata que usou dessa exploração desumana para enriquecer sofreu igualmente as influências culturais da mãe África. A crescente miscigenação provocou mais ainda a fusão de costumes, impregnando-se dos ritmos, da música, da culinária e de tantos outros valores originados no continente africano. Com traços ameríndios, em proporção menor, esse Nordeste da Casa Grande e da Senzala encontrou sua culminância ao participar da história com feitos heroicos na guerra contra os batavos e nas revoluções libertárias, assim como da riqueza do país com os Ciclos Econômicos do Pau Brasil e da Cana de Açúcar.
Sob esse aspecto faz bem relembrar as impressões que Henry Koster escreveu em 1816 dizendo que era chocante o contraste entre a pobreza do sudeste e a opulência do Nordeste. E segundo Simonsen, Pernambuco detinha em 1850 a metade do PIB nacional.
Ainda hoje a zona da Mata concentra a maior população, a maior renda per capita e tende a absorver acentuadamente as indústrias e a merecer maiores investimentos do governo.
No entanto o maior de todos os nordestes é o compreendido pelo semiárido, cuja identidade tem as suas raízes mais profundas alimentadas pelo Ciclo do Couro. A criação de gado vacum nos confins do sertão e, em seguida a expansão das fronteiras agrícolas quando se descortinou um vasto território que se prestava à cotonicultura, foram as atividades de cunho econômico predominantes.
O manejo do gado, com os rebanhos criados soltos, sem limitações de espaço, a vida nas fazendas, propiciaram, portanto, o ambiente para as práticas de apartação que se utilizavam com frequência da imobilização das reses desgarradas. A impossibilidade da derrubada de bois pela utilização da vara de ferrão, haja vista a vegetação nativa formada pela caatinga sertaneja foi substituída com êxito pela saiáda. Quando o animal se apartava do rebanho em correria, o vaqueiro montado em seu cavalo veloz seguia-lhe os passos derrubando-lhe com um puxão no rabo e, em seguida, colocando-lhe uma máscara de couro para conduzi-lo ao curral.
Forjou-se nesse ambiente uma matriz cultural com menor influência afro, mas com acentuada energia primitiva. Esse Nordeste teve seus líderes guerreiros e religiosos, suas forças de guerra e de paz, sua música, sua literatura; costumes que se amoldaram à crueza de uma terra hostil regida pelas forças da natureza. E foi nesse Nordeste de sol forte e poucas águas que nasceu a Vaquejada, hoje a maior de todas as festas de gado do país.
No dizer de Câmara Cascudo “O Ciclo da cana-de-açúcar não pôde produzir o cangaceiro, o cantador de pandeiro e viola, o improvisador, o dançarino solista, o artesão independente, o cavalariano afoito, o beato aliciante, o jagunço, o fanático” e, por conseguinte, o vaqueiro e a vaquejada “festa mais tradicional no ciclo do gado nordestino”.
A ORIGEM DAS VAQUEJADAS
Alguns sites de vaquejadas, à época em que iniciamos nossa pesquisa, referiam-se ao Rio Grande do Norte como sendo o berço das vaquejadas, diziam que FOI AQUI QUE TUDO COMEÇOU! Uma página inteira em revista especializada em vaquejadas anunciava que a vaquejada de Itapebuçu no Ceará era a mais antiga do Brasil
Fake News!
Mesmo os maiores estudiosos não têm datas nem lugares precisos onde comprovadamente tenha sido iniciada a prática de derrubada do boi pelo rabo, que, estabeleceu-se nas regiões pecuárias do Nordeste e que evidentemente, é a origem das vaquejadas.
Retornemos à introdução do gado no século do descobrimento.
Sua expansão a partir da Bahia seguiu o caminho do Rio São Francisco, o chamado SERTÃO DE DENTRO, e a partir de Pernambuco, o SERTÃO DE FORA, tomando a direção costeira até o Ceará Grande, passando pela Paraíba, Rio Grande do Norte e confluindo com os rebanhos baianos no Piauí.
Em seu ensaio, O Ciclo do Couro no Nordeste, José Alípio Goulart, diz que “a princípio os currais situavam-se na orla marítima, ao pé das lavouras, isso tanto na Bahia quanto em Pernambuco”.
No entanto, os conflitos entre agricultores e pecuaristas, devido, sobretudo a grande dificuldade de utilização de cercas divisórias, inviabilizaram essa convivência.
Como a produção açucareira era o principal produto de exportação do Brasil Colônia o gado teve o destino dos sertões onde a cana-de-açúcar não seu estabeleceu, decorrente dos baixos índices pluviométricos. Nessa região a pecuária desenvolveu-se, embora as secas tenham, em alguns momentos, dizimado rebanhos, interferindo no pleno sucesso dessa atividade econômica.
José Alípio diz que “A princípio os currais situavam-se na orla marítima, ao pé das lavouras, isso tanto na Bahia quanto em Pernambuco. Com o desenvolvimento do criatório começaram a surgir atritos, às vezes até sangrentos, entre criadores e lavradores, motivados por estragos causados às plantações pelas patas dos gados soltos”.
Em 1701 uma Carta Régia estabelecia que o “Criatório fosse afastado de no mínimo 10 léguas das áreas lavoureiras”.
A pecuária foi impelida para o interior, para a região semiárida.
O manejo do gado criado solto pelas extensas áreas sertanejas passou a exigir que a cada ano as reses fossem levadas para os currais onde eram contadas e ferradas, castradas e se necessário tratadas contra bicheiras e outros males, pois as propriedades não tinham cercas divisórias e o gado das fazendas próximas era criado conjuntamente. Aquele também era o momento em que se definiam os lotes a serem comercializados e que tomavam o rumo dos centros urbanos para serem abatidos e dos engenhos de açúcar onde eram utilizados nas moendas, nos carros de boi para transporte da cana e de outras mercadorias.
Esse arrebanhamento dos animais que eram levados para a fazenda mais aparelhada, com currais maiores, reunia os vaqueiros de toda a região e deu origem às famosas festas de apartação. Momento de congraçamento e socialização de vaqueiros, fazendeiros e suas famílias.
Nessa atividade de ajuntamento das reses invariavelmente fazia-se indispensável interceptar aqueles animais que se desgarravam do rebanho, barbatões arredios e fujões que se embrenhavam pela mata.
As mais antigas técnicas utilizadas em todo o país para essa finalidade eram a vara de ferrão ou aguilhada e o laço, que demonstraram ser impossíveis de serem utilizadas na caatinga. É quando aparece a derrubada do boi pelo rabo. Ninguém sabe se no Ceará, no Piauí, na Bahia, na Paraíba, Rio Grande do Norte ou Pernambuco, tudo indicando que começou na primeira metade do século XIX.
Qualquer pessoa que busque conhecer a história da vaquejada inevitavelmente terá que recorrer ao ensaio de Luís da Câmara Cascudo publicado em 1953 sob o título A Vaquejada Nordestina e sua Origem.
Não conhecemos outro livro que aborde a questão sob o ponto de vista histórico. A bibliografia sobre o tema é limitada e situa-se em geral sobre depoimentos pessoais interessantes, mas não elucidativos.
O folclorista Luís da Câmara Cascudo, provavelmente o maior do país, ao procurar registros mais remotos sobre a derrubada do boi pela cauda, afirmou não ter encontrado nenhuma referência sobre o assunto na literatura colonial nos séculos XVII e XVIII. Encontrou-as, entretanto, no século XIX nos relatos de Irineu Joffily, José de Alencar e Euclides da Cunha.
Em 1892 o historiador Irineu Joffily em Notas da Paraíba descreveu o “hábito das juntadas e apartações que consistia em vaqueijadas gerais nos campos de cada fazenda”. Referiu-se tanto à técnica da aguilhada (vara de ferrão) quanto à queda de rabo como, prática em uso naquele estado.
Euclides da Cunha em 1897, no clássico da literatura nacional “Os Sertões” relata um desses momentos da vida das fazendas do interior baiano... “Quando o touro largado ou o garrote vadio escapa pela caatinga e é perseguido pelo vaqueiro que o derruba pelo rabo, coloca-lhe uma peia ou máscara de couro levando-o para o rodeador”.
Cascudo afirma desconhecer referência impressa à vaquejada “Onde o vaqueiro derrube o touro pela cauda, antes de 1874”.
Nesse ano José de Alencar publicou no jornal O Globo do Rio de Janeiro, comentários sobre as duas formas de contenção de animais arredios coexistindo nos sertões cearenses.
Luís da Câmara Cascudo não teve, entretanto, a oportunidade de ler o Diário de Francisco Freire Alemão, escrito entre 1859 e 1861 por ocasião da expedição científica organizada durante o império, para conhecer o interior do Ceará. Nem teve também acesso à Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1857 onde, José Martins Pereira d’Alencastre publicou a Memória Cronológica, Histórica e Corográfica da Província do Piauí datada de 15 de maio de 1855.
O registro do Piauí antecede cerca de 19 anos aquele citado por Cascudo e é esta a nossa contribuição à História das Vaquejadas do Brasil.
D’Alencastre diz que
“É delicioso para o senhor da fazenda ver ir-se aproximando dos currais as marombas de gado trazidas ao som de cantilenas de seus condutores que, como se foram dias festa, se entonam em seus melhores gibões e perneiras e se armam de uma vara de ferrão, que arvoram como um estandarte, cavalgando os mais corredores ginetes da fazenda. À primeira vista parece muito simples a ciência de um vaqueiro; assim não sucede; porque um vaqueiro, para ser bom, deve saber derribar pela cauda, ou de mucica, e também de vara o boi que espirrar da maromba”.
Com a introdução do arame farpado no início do século XX as propriedades rurais passaram a ser limitadas por cercas e cada fazenda manteve seu rebanho isolado fazendo com que as apartações perdessem sua finalidade. Com isso as festas que se promoviam reunindo a vaqueirama e os fazendeiros da região foram ficando cada vez mais raras.
No Agreste a introdução do avelós como cerca viva já se estabelecera. Nos anos 50, por exemplo, todas as fazendas de Surubim já se encontravam com suas cercas dessa euforbiácea trazida da África permitindo a convivência das práticas agrícolas e pecuárias. As estradas vicinais eram ladeadas por elas que provavelmente anteciparam em algum momento as pistas de vaquejadas.
Após o ajuntamento do gado nos currais realizavam-se nos pátios das fazendas, por diversão, exibições de vaqueiros e suas habilidades no manejo da saiáda, a derrubada do boi. Essa era a chamada corrida no limpo, cujas apresentações foram o início das vaquejadas como as conhecemos hoje. Foram transplantadas dos pátios das fazendas para pistas de corrida em áreas urbanas, como esporte, demonstração de destreza, competição entre os vaqueiros. E coube a Surubim, no ano de 1937 a proeza de dar início a essa que indiscutivelmente é a maior festa de gado de todo o país.


HISTÓRIA DA VAQUEJADA DE SURUBIM
Como registros, encontramos no Diário de Pernambuco do dia 30 de julho de 1937 uma manchete anunciando que “Vai se realizar uma vaquejada em Surubim”. Em subtítulo dizia “Reina grande animação em torno dessa festa de caráter intimamente regional (...)”
Em 7 de agosto conclamava os leitores para a “Próxima Vaqueijada em Surubim” enquanto o subtítulo dizia “Ascenço Ferreira proclamado seu presidente”.
SLIDE DP
Conforme o DP o poeta Ascenço Ferreira ficou entusiasmado quando leu a notícia dessa festa a se realizar em Surubim e pronunciou-se dizendo “Contam-se vitórias e mais vitórias da gente de Caruaru, de outros municípios em jogos de futebol. Isso pra mim é uma tristeza”. E sugeriu “Como seria interessante que em lugar desse esporte, todo de fora, cuidássemos daquilo que é eminentemente nosso, como a derrubada, a apartação etc. poderíamos promover nesse sentido reuniões interessantíssimas em nossas fazendas o que viria contribuir para a perpetuação dos costumes da terra, DE CAPÍTULOS OS MAIS EXPRESSIVOS DA HISTÓRIA NORDESTINA".
Diante desse quadro, o repórter do DP que não conseguimos identificar, ao som dos aboios cantados pelo poeta, proclamou Ascenço Ferreira como o Presidente da Vaquejada de Surubim.
SLIDE DP
Em 18 de agosto ressaltava, o mesmo periódico, que “Continuam animados os preparativos para a Vaquejada de Surubim”. E, em subtítulo chamava a atenção para “Vaqueiros e cavalos famosos na pega do boi concorrerão a essa festa regional”. “Aos vencedores serão conferidas medalhas de ouro e prata”. “Número de violas e desafios de cantadores”. Completava afirmando que a festa (...) vem despertando grande interesse na capital.
SLIDE DP
No dia 25 de agosto o DP publicou “Realiza-se desde ontem a Vaquejada de Surubim”. Matéria que considero ser a Certidão de Nascimento da Vaquejada de Surubim e de todas as outras que se realizam pelo país afora.
Mais outra vez o DP que, abraçara o manifesto regionalista de 1926 de autoria de Gilberto Freyre, abriu largo espaço para as vaquejadas, desta feita a primeira que se realizou numa capital, em Recife.
Anunciou no dia 14 de novembro desse mesmo ano, A Vaquejada de Amanhã no Prado da Madalena, “promovida por um grupo de fazendeiros de Surubim”.
SLIDE VAQUEJADA EM RECIFE
Entrevistei no Cariri paraibano o vaqueiro Antônio Alexandre que correra na primeira vaquejada de Surubim e participara dessa outra em Recife.
SLIDE ANTÔNIO ALEXANDRE
Já centenário e lúcido, embora cego, me contou que em Recife os vaqueiros trazidos para essa exibição desfilaram em carro aberto por toda a cidade parando nos hotéis, encourados dos pés à cabeça. Disse-me que “era uma zuada, mais eram as mulheres, pegavam na gente, apalpavam a gente”.
Em 1942 o Juiz de Direito de Surubim, Oscar Loureiro, proibiu as vaquejadas em todo o município, assim como as brigas de galo e canários.
Entretanto no final de 1948 o magistrado faleceu e no ano seguinte Surubim inteiro mobilizou-se para retomar as suas vaquejadas que tiveram uma repercussão nacional, a maior de todos os tempos.
Em 12 de janeiro de 2006 tive a oportunidade de gravar uma entrevista com José Irineu Cabral que por volta do ano de 1949 era alto funcionário do Ministério da Agricultura e que foi o responsável pela farta publicidade divulgada no Rio (e em todo o país) em torno da vaquejada.
Disse-me que organizou uma equipe para vir pra essa vaquejada constando de 4 cinegrafistas. Um foi o Stamato do SIA, outro o Herbert Richers, outro Jarbas Barbosa, irmão de Chacrinha e a equipe do O Cruzeiro com o cronista de cinema Pedro Lima e o melhor repórter da época Luciano Carneiro.
SLIDE DA REVISTA O CRUZEIRO
Como resultado a vaquejada de Surubim ocupou 10 páginas dessa que foi a mais importante revista nacional.
Enquanto isso, de todos os documentários cinematográficos, só conseguimos justamente este que foi exibido em todos os cinemas do Brasil, numa época que não existia televisão.
FILME SOBRE A VAQUEJADA
Juntando-se aos filmes e à O Cruzeiro a revista do Ministério da Agricultura igualmente retratou a festa surubinense completando-se assim o ciclo de difusão nacional dessa festa de mourão como até os dias de hoje ainda não se fez.
SLIDE DA REVISTA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
Nossa pesquisa esgota-se às vésperas da música do Quinteto Violado que convida todos para a festa em Surubim e que fez sucesso nacional. Iniciava-se o que denominei de terceiro ciclo das vaquejadas do município quando as corridas de mourão que ocorriam em lugares diferentes a cada ano passaram a realizar-se no Parque J. Galdino. Tinha início também a profissionalização dos vaqueiros e das vaquejadas.

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CONCLUSÃO
Reafirmo o que José Nivaldo Junior quando em seu excelente prefácio disse que “Surubim foi palco da primeira vaquejada urbana no Brasil, organizada, com regras definidas e premiações determinadas”.
Dentro do nosso ponto de vista A VAQUEJADA em si é a afirmação de uma identidade essencialmente nordestina circunscrita ao ciclo pecuário. Faz parte de um ritual inconsciente, arquetípico, onde o boi e o cavalo, que são dominados são as forças instintivas subjugadas pela razão personificada através do vaqueiro.
Surubim, com tão pouco tempo de existência haja vista que praticamente em 1850 não se estabelecera nem como povoado, doou a Pernambuco Chacrinha e Capiba, personagens emblemáticos da televisão e da música popular, assim como José Irineu Cabral fundador e primeiro presidente da EMBRAPA órgão que qualificou através de pesquisas, a agropecuária nacional.
Somando-se a eles como ficou claro, a Vaquejada que, com seus parques de corrida, em quase todos os estados do Brasil é considerada como o único esporte genuinamente nacional.
Nos próximos dias 11 a 15 deste mês de setembro Surubim realiza mais outra corrida de mourão mantendo acesa uma tradição iniciada há 82 anos.
Algumas medidas foram tomadas ao longo desses anos para diminuir os maus tratos dos animais. As pistas de corrida hoje têm uma camada de areia para redução do impacto da queda dos animais, foi desenvolvida uma espécie de luva para envolver a cauda dos bois evitando que se machucassem assim como as esporas e as chibatas foram inteiramente proibidas de serem utilizadas pelos vaqueiros.
À parte essas iniciativas as vaquejadas perdem a cada ano a sua conexão mais profunda com as raízes de onde se originaram, não há mais corredores com chapéus de couro, nem perneiras, nem gibões. Não encontramos mais grupos de vaqueiros pelos bares da cidade entoando seus aboios como tenho guardado ainda bem vivo na memória de minha infância.

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